quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Sala Escura.

Por Renata Costa Gomes.
No primeiro ano do Ensino Médio, a minha não era o que se pode chamar de uma turma calma. Freqüentemente, alguém era expulso de sala, e ocorria ao menos uma suspensão a cada semana. Os tipos que faziam parte da turma eram dos mais variados. Havia as garotas estudiosas com seus cadernos coloridos e suas canetas cheirosas, os roqueiros com seus cabelos longos, os pagodeiros, que matavam aulas às pencas, o grupo que não estava nem aí e os indefinidos. Eu fazia parte dos indefinidos. Eu acho.
Motivos para rir não faltavam naquela sala, seja das piadas dos professores, seja das gracinhas dos alunos. Lembro-me de algumas situações com grande clareza. No último dia de aulas do primeiro semestre, um de meus colegas passou a manhã inteira acusando o professor de História de exagerar na bebida. Alcoólica. Ao final da aula desse professor, ele recomendou-nos: “Juízo nas férias. Mantenham-se sóbrios.” Eu não resisti a responder: “O Senhor também, professor”.
Houve uma aula de Artes Visuais em que a professora estava mostrando-nos a arte dos maias e astecas. Ela destacou a curiosidade de que essas civilizações construíam aquedutos para transportar água por grandes distâncias. Então um colega levantou a mão e: “Mas professora, existia água naquela época?”.
Além dessas, houve muitas outras situações engraçadas, mas a que mais se destaca em minha memória é de um dia em que faltou luz. A primeira aula da manhã era Gramática, e todos detestavam o professor. Antes mesmo que a aula pudesse começar, faltou luz no prédio inteiro. O professor ficou sentado em sua mesa, enquanto nós nos dispersamos pela sala e começamos a conversar, a ouvir música e a andar de um lado para o outro. Houve um momento em que o professor conseguiu emprestado um celular com lanterna e começou a olhar o diário de classe e mais alguns papéis. Isso tudo durou cerca de quinze minutos.
De repente, as luzes se acenderam. Uma colega nossa, porém, passando próximo ao interruptor, apagou-as novamente. O professor não viu seu gesto e pensou que fosse mais um blecaute. Depressa, nós desligamos os ventiladores e continuamos o que estávamos fazendo, ou seja, nada produtivo. Mais quinze minutos se passaram até que o professor levantou-se de sua cadeira, caminhou até a porta – que estivera aberta durante todo esse tempo – e constatou que todas as outras salas estavam claras e com aulas em andamento. Sério, ele apertou o interruptor e as luzes se acenderam. Poucos de nós se esforçaram em fazer uma expressão de espanto e, aos poucos, todos voltaram a seus lugares e sentaram-se. O professor tentou dar uma aula acelerada, como tentativa de nos punir, imagino, mas seus esforços foram inúteis, já que dar uma aula pior do que as que ele normalmente dava é humanamente impossível.
Com esse episódio, nós ganhamos mais um motivo para rir. O que eu aprendi sobre Gramática o ano inteiro? Absolutamente nada. A moral da história? Seja mais esperto! Se estiver em uma sala com as luzes apagadas, olhe através da porta para ver se há luzes no corredor, ao invés de ficar olhando para uma folha de papel com uma lanterna de celular.

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